O novo contexto da saúde, embora incerto, aponta para uma gestão mais humanizada de pessoas e que deve requerer habilidades para gerir crises em cenários ainda mais dinâmicos e com forte propósito de atuação.
Gestão de pessoas é uma dimensão que vem crescendo em importância nos vários setores da economia e atuando como alicerce chave na geração de valor. No setor da saúde, a evolução de práticas cada vez mais eficientes e profissionais tem contribuído para uma gestão com maior grau de profissionalização, humanização e sofisticação. No novo cenário mundial, as pessoas estão cada vez mais no centro das decisões das empresas, impulsionadas pela preocupação com a saúde física e mental de seus colaboradores, fornecedores e clientes. Assim, a dimensão humana ganha destaque como “meio” e “fim” para as organizações. E isso tende a permanecer, já que a crise por que passamos atualmente tende a acentuar a importância do processo de humanização das instituições de saúde.
Como “meio” enxergamos a valorização crescente de profissionais cuja essência da profissão requer alto teor de coragem e entrega. Aqui estão não somente os médicos, em sua maioria já bem reconhecidos, mas principalmente os enfermeiros e outros profissionais que atuam diretamente na assistência, garantindo e agregando na qualidade dos processos e da prestação do serviço. Como “fim” enxergamos o propósito das organizações e dos negócios. As gerações mais novas já vinham se guiando pelo propósito como um dos principais motivadores de carreira dentro e fora da saúde. A pandemia atual serve como um “teste de propósito” para os negócios atuais, ou seja, uma espécie de “prova ácida” do real propósito das organizações e suas respectivas propostas de valor. Vivemos uma grande mudança de postura de gestores na priorização de ações, reavaliando seus planos à luz de elementos humanos que valorizam mais o coletivo que o individual, como preocupação com meio ambiente, comunidades menos favorecidas e, inclusive, temas éticos. Não haverá espaço para organizações e pessoas sem propósitos claros.
O que podemos imaginar então como evolução da necessidade de perfil dos gestores da saúde? Tudo ficará igual ou algo mudará? Para isso destacamos dentre tantas mudanças, três aspectos principais que tendem a evoluir: a tecnologia, o risco e a liderança. Em tecnologia destacamos a aceleração da adesão a processos remotos, como a telemedicina, que tem ganhado terreno entre profissionais e pacientes. Se antes eram na sua maioria resistentes, em poucas semanas, passaram a perceber a prática como mais eficiente, especialmente em setores em que o contato físico não é tão relevante, como em algumas etapas de tratamento de saúde mental, por exemplo. Profissionais que já tinham destreza com a digitalização de negócios e mesmo da assistência, hoje demonstram sentir menos os efeitos da pandemia. O risco biológico traz consigo um aumento na relevância da gestão de risco, dado que o período atual de grandes incertezas relacionadas à propagação do covid-19 exige que os profissionais naveguem a todo momento avaliando e reavaliando cenários mutantes que impactam toda a cadeia de negócios da saúde. Para isso, os profissionais devem estar abertos, não somente a novas tecnologias, como também a novos modus operandi, o que exige muita flexibilidade e rapidez de aprendizagem. Por fim, a liderança é chave para mobilizar pessoas que hoje têm demandas diferentes de meses atrás e que precisam receber estímulos e orientações sobre como enfrentar adversidades e continuar a fazer suas entregas. O cenário atual, e o que podemos imaginar para o médio prazo, será de muitas incertezas e crises. Assim, os gestores que tendem a se destacar são os que de fato obtenham resultados – tanto quantitativos quanto qualitativos – em cenários ambíguos e dinâmicos. Estes serão os mais valorizados e importantes para que a sociedade possa gerir bem suas crises que, cada vez mais, apresentarão maior complexidade e ocorrerão com maior frequência. Líderes que façam a leitura constante dos fatores externos e internos terão muita relevância no mundo dos negócios da saúde. Na prática, serão aqueles que conseguirem combinar a adequação de seus planos estratégicos com flexibilidade, agilidade e sensibilidade a fim de atender a mudanças constantes na demanda de clientes e com qualidade na entrega dos serviços. Além disso, esses líderes trarão ainda mais benefícios ao sistema de saúde se mantiverem o foco na segurança de processos e na rapidez na resolução de problemas, com decisões ágeis e respaldadas pela tecnologia e pela ciência.
O futuro de como será a gestão de pessoas na saúde, portanto, não é claro. O que sabemos é que as competências de gestão de crise e de resolução ágil de problemas serão determinantes para a evolução dos negócios e da tecnologia. O que vemos hoje é uma transição para um mercado mais dinâmico em demanda e exigente em propósito. Por isso, o mercado tende a requerer dos líderes da saúde que capacitem suas equipes gerenciais e operacionais em como gerir risco e como, de maneira genuína, inserir um olhar mais humano para o negócio e seu entorno.